terça-feira, 16 de março de 2010

Florence + the Machine




Nunca pensei ser capaz mas esperei e... Aqui está! Tudo autografado! Desde o bilhete, ao álbum! Não esquecendo a agenda!





Valeu o frio e os cigarros todos! Valeu o "Roadie" mal disposto e o susto da janela do tour bus! Valeu as dores nas costas e os dedos congelados! Valeu tudo para conhecer, ver e tocar na artista mais doce, meiga e carinhosa de sempre! Mesmo com seguranças idiotas a tratarem-nos mal e a gozarem connosco, por estarmos ali á espera. (Embora o, suponho, guarda costas dela se tenha virado para um deles e dito: "Be nice to them., okay? Be nice, they're not doing anything wrong." com ar de que se o português não o fizesse provavelmente iria apanhar uma solha e depois se voltasse para nós com o maior sorriso do mundo, naquela cara ja enrogada e desgastada do trabalho e noites mal dormidas.) Nada importou!

A musica, o ritmo, os passos, a dança, tudo para ti! Tudo contigo na minha cabeça! Tudo contigo no meu coração e nos meus lábios! Cada palavra murmurada dos lábios dela, um momento nosso! Desde a vibração do meu corpo, até ao ritmo da minha voz, por ti! Para ti! Dediquei-te todas as musicas, todos os sons! Todas as palmas e movimentos do meu corpo!

Ali dancei, ali deixei cair uma lágrima ao ritmo da mais terna musica, a minha musica, de mim para ti. Deixei cair todas as barreiras e deixei-te entrar no fundo do meu ser, tu, mais ninguém. Senti os teus braços à minha volta, o teu respirar no meu cabelo, o teu beijo na minha face e na minha boca. A tua mão na minha. Ali fizemos amor, sem tu saberes.

Então entendi. Tu e eu, somos um só ser. Um só amor. Não trágico como Romeu e Julieta, mas somos capazes de morrer por ele, eu pelo menos só. Lutar contra a maré, varrer meio mundo como um tufão e no final... amainar e assentar.

Quanto ao concerto...
Só visto, só sentido! Ela tem uma força enorme! É uma guerreira na pele de uma menina de olhar inocente e coração de manteiga! LINDA! LINDA! Tão perfeita que até dá medo de tocar.

Ritmos fantásticos, voz deslumbrante e uma sensibilidade extrema para com o publico. Abraçou uma das raparigas que conheci, que teve a sorte de ficar mesmo à sua frente. Viu-a chorar, na sua camisola de "Florence Welch is my hero", fiquei tão feliz pela rapariga, nem imaginam! Abraçou-a, deu-lhe uma flor e, no final do concerto, certificou-se que, a baqueta, ficava na mão dela!

Dançou, rodopiou, saltou, ela é incrível em palco! Uma energia enorme e contagiosa!

Aula Magna, pff! Pessoas sentadas? Impossivel! Com ela não dá!
Ela ficou claramente impressionada com a nossa distancia para com ela, não gostou, queria-nos perto, perguntou se tinhamos mesmo que estar longe dela, longe do palco. Pediu-nos para que fossemos ter com ela, porque nos queria perto, porque nos queria ver e tocar. Pediu-nos para nos levantarmos e irmos até ela, nós fomos. Mesmo com seguranças carrancudos e dois metros até ao chão, do outro lado da separação de zonas. Ficou claramente radiante, adorou-nos como publico, ficou chocada até com a nossa vibração positiva para com ela, com as palmas, com os pulos e gritos, agradeceu-nos comovida, dizendo que eramos um bom final de tour, que foi uma surpresa agradável e nunca tinha visto publico tão dedicado.

Miss Florence conseguiu fazer o que nunca vi nenhum artista fazer, ela tocou cada pessoa do publico, beijo-nos a todos com a sua musica e acariciou-nos, mimou-nos até, como publico, foi um concerto único e magico.

Ela nasceu para a musica, ponto. Ela tem uma voz... enfim, sem palavras.



Sabem o que mais gostei nela?

Estava descalça.

Eu sei que ninguém liga a estes detalhes mas eu sim. Ela estava descalça, estava em casa, a fazer o que gosta, a beber chá e a falar, a amar, pessoas que a deslumbravam. Descalça. Os pés branquinhos, na madeira e dançava, agitava-se e dava voltinhas sobre si mesma, no seu maravilhoso vestidinho branco.

Não sou como as pessoas que ouvi falar, não consigo ver nada sexual nela, nem mesmo as pernas desnudas, nada! Ela é, sei lá, uma musa... Uma musa inspiradora que, juntamente contigo, me puxou para cima e me deu forças! Raise it up, diz ela! E assim fiz! Tive pena de não lhe ter dito que ela me ajudou bastante e me inspira no meu trabalho artistico... Bem, ficará para uma proxima.




Melhor concerto de sempre, só gostava que lá estivesses comigo para partilhar.

Um dia estarás.

sábado, 13 de março de 2010

Coelhinho, meu coelhinho



Sonhei contigo, coelhinho, tinhas os olhos castanhos, brilhantes e serenos.
Olham para mim e sorrias , desdentado.
Tinhas um ninho de cabelo castanho à frente, muito ralo.
Sentei-te ao meu colo e tu brincaste com o meu colar, babando-o todo, como o teu primo me fazia quando era pequeno. Agora já não é mas tu bem sabes.
Abanaste os pés, contente e olhaste para mim com o fio na boa, talvez soubesses que estavas a fazer algo maroto mas não te importaste.
Riste-te quando eu sorri e soltaste um guincho estridente, batendo com as mãos no meu peito.
Estávamos sentados à beira rio e tu ouvias as gaivotas e voltavas a cabecinha à sua procura.
Beijei-te o cabelo e senti o teu cheiro adocicado.
Deixaste o colar, preferiste a mão, babaste-a com todo o gosto.
Deviam ser o dentes, que provocavam dores e comichão, senti-o por ti e abracei-te contra o peito.
O banco de pedra onde estávamos sentados estava morno do sol, embora a aragem fosse fresca.
Pessoas passavam e diziam-te "olá", tu rias-te e fazias "adeus" com a mãozinha rosada e pequenina.
Alexandre, era o teu nome.
Até ao dia, meu amor.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia da mulher? É todos os dias!


Para quem leu o Metro e, como eu, leu a Crónica de Rui Zink, professor e escritor, achei que deveria posta-lo aqui, porque é uma realidade:



"O que sempre soube das mulheres, mas tive à mesma de perguntar.
"

Tratam-nos mal, mas querem que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se de que nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas mentiras desde que te tenhamos graça a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos porque se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, embora seja melhor não as provocarmos. Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que até dói. São óptimas mães até que os filhos fazem 10 anos, depois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm noites. Conseguem ser tão calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e (milagre!) por esse acto de bondade tornam-se mesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até a mais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça, mas depois levam-nos a colher à boca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos - elas quando jogam é para ganhar. E é tudo. Ah, não, há ainda mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco."



Crónica de Rui Zink, professor e escritor.

Intolerancia e preconceito


A intolerância das pessoas espanta-me.
Sinceramente.

O ser humano é o animal mais estúpido e ignorante à face da terra.
Somos mesmo um bicho do mato, que não sabe ver para além do próprio nariz e, que tudo o que é diferente de nós, é nada mais do que algo mau e, ou também, errado.

Desde o homem que não se levanta do assento da camioneta para dar lugar à gravida, até ao mulher que se recusa a fazer o mesmo, apesar de saber, por experiência própria, que a gravidez custa na coluna e é perigoso numa camioneta que se balanceia em cada curva.

Indigna-me. Irrita-me solenemente. Dá-me nojo.

Lembro-me de ter aberto os pontos da mão, quando numa travagem me tentei agarrar ao varão gordurento de uma 206. Doeu mas ao menos a idosa a quem dei lugar não caiu, como teria acontecido se estivesse de pé, no lugar onde estava.

Como é possível virar a cara e não dar lugar a quem precisa? Pesa assim tanto o raseiro e o ego a estas pessoas ignorantes e egoístas? Não compreendo.

Há casos e casos, claro. Uma mulher com bebe de colo, não devo, embora possa, ceder um lugar a uma idosa. Ou um jovem com uma perna ou braço partido, não deve, embora possa, dar lugar a uma criança. Mas e os restantes? Terão também crianças de colo ou um membro partido?

Não me parece.

Ver jovens da minha idade, virarem a cara e ignorarem, uma mulher gravida, ou uma criança de 3 anos? Um pai ou mãe, já maduro, não repara nisso também? Porque viram a cara?

E toda a gente me olha surpreendida, quando me levanto para ceder o lugar aos que precisam.

Sim, porque eu, com o meu aspecto estranho, austero e de quem não bate com o baralho todo, levanto-me. A tua prestabilidade súbita e um "eu ia-me levantar agora" ou "eu ia já sair na próxima", quando a pessoa que precisa se senta e ocupa o meu lugar.

Mesmo que eu esteja cansada, mesmo que esteja carregada de sacos do super-mercado, mesmo que esteja com uma dor de cabeça horrível de ouvir a musica irritante de um telemóvel nos bancos de trás. Levanto-me, porque a pessoa precisa mais que eu.

E depois se uma pessoa, tem o azar, de ser mais forte e ocupar um bocadinho mais de banco, meu deus! Santo senhor dos céus, que a criatura é "baleia" e não respeita o proximo, "talvez devesse fazer uma dieta que aquilo até dói á vista" ou talvez "Que horror, nem sei como arranja roupa para aquele tamanho!".

Fico possessa. Deixo de pensar e as palavras saiem-me da boca mais rapido do que as consigo conter: "Mas você tem algum problema? Será que todo o cuidado com que come e a vontade que em de ser magra, lhe atrofiou o cerebro?".

Silêncio.

Suspiro e olho para a rapariga que parece à beira das lagrimas e digo-lhe, com toda a sinceridade e amor pela dor dela, a mesma dor que partilho com ela: "Sabe, não tem culpa de ser uma mulher mais forte. Não somos gordas, somos belas. Mais belas que eles, que só vêm caras na sua vida miserável na procura de serem quem não são. Não chore por si, chore por eles, por serem ignorantes e preconceituosos, porque não sabem o que é a dor de ser diferente entre iguais ou são tão mesquinhos nas suas vidas de cusquices e "familias perfeitas" que nem vêm a porcaria que são, por dentro e por fora."

"Obrigada.", sorri.

Depois penso na impaciencia das pessoas quando um cego entra com um cão num café e este se senta ao lado do dono, obdientemente, enquanto ele bebe o café sentado numa mesa. O dono diz-lhe que tem que meter o cão na rua.

Pergunto-me então quem é o cego afinal: Se o dono do cão, se o dono do café que não tolera a cegueira dele e não tem um pingo de compaixão agora que já tem o dinheiro na caixa.

Novamente, sinto o sangue a frever. Não tenho pena do cego, acho que eles são mais fortes que nós, que temos as capacidades todas.

Um "Que estupidez deixar o cão entrar, não sabe ler o sinal? Ah, espera, é cego.". Risos.
Outro "Porque é que não toma o café na esplanada? Assim não incomodava ninguém, nem tinhamos que levar com o cheiro a cão molhado." Sim, porque está a chover.

As vezes sinto que sou louca, talvez mesmo passadinha da cabeça, sou a unica pessoa que entendo o homem? Sou a unica pessoa que não vê necessidade de tal confusão porque um cego está acompanhado de um cão guia? Sou a unica que não ouve o cão fazer um unico barulho, nem lhe sente o "cheiro a cão molhado"? Indignam-me estas coisas.

Não consigo calar-me e saí sempre alguma palavra mais alto e todo o café se cala.

"Será que são assim tão cego e egoistas que não vêm que o homem PRECISA do cão para a sua vida diaria? Será que são cinco minutos da vossa tão preciosa vida que estão a perder porque um ser semelhante a vocês PRECISA de uma excepção? Não estamos a falar de uma senhora com um caniche debaixo do braço, estamos a falar de um cego. Ah esperem, talvez se a senhora fosse fina e bem vestida, mesmo que o cão fosse mal-cheiroso e cheio de pulgas, poderia entrar... mas agora que é um cego..."

Silêncio de novo.

"Acabou de perder uma cliente e, aprenda uma coisa: quando um dia for você ou os seus, talvez veja o mundo com outros olhos."

Toco na mão do cego e digo-lhe "Obrigada por ser diferente". Dou uma festa ao cão, o resto do meu bolo e ao ouvir um "Obrigado" do homem a seu lado, saio porta fora.




Obrigada eu, as pessoas que aparecem na minha vida e que me mostram o quando sou diferente das mentes mediocres deste pais. Não sou mais importante, apenas tenho noção da dor e do preconceito e por isso mesmo, trato os outros como gostava que me tratassem a mim. Não sou mais, nem melhor, sou apenas eu.

Não sou uma heroína, não sou uma justiceira, apenas se puder fazer a diferença e ajudar alguém, faço-o. Era o que todos deveriamos fazer.

sexta-feira, 5 de março de 2010


Brida e O Diario de um Mago, já foram!

Agora, estou a ler o Chocolate, que vale sempre a pena reler para depois passar para o Sapatos de Rebuçado.

Livros ternurentos, mesmo...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Parabéns ao André e a quem ama animais...

Parabéns ao André.
Haja boa gente, ou pelo menos, seres humanos conscientes de que os animais são como nós, de carne e osso, também sofrem e também precisam de ajuda.






Eu mesma já passei pelo tormento de tentar garantir que um animal tivesse uma vida digna, ou diga-se, 2 cadelas adultas e 6 cachorros.

Tudo começou com a minha saída de casa para a escola.
Normalmente, como todos os dias, as 5 e meia da manhã, eu levantava-me e metia-me nas pantufas. Tomava o meu merecido banho e vestia-me para, garantidamente, apanhar a camioneta das 6:30.

Este dia teve um pequeno desvio.

Ao chegar ao fundo da rua, que é um entroncamento, bastante movimentado, vejo três coisas peludas e minúsculas no meio da estrada.
O meu coração parou, os nervos tomaram conta de mim e desatei a correr, desenfreada pela estrada dentro, sabe-la com que perigo de ser atropelada por um autocarro ou um condutor mais despistado.
Consegui apanhar os dois primeiros e ao o terceiro já foi mais complicado. Felizmente, o condutor do camião viu-me e parou, mesmo numa rua a descer e com risco de perder carga. Deixou-me passar e perguntou se estava tudo bem e o que raio andava a fazer.
Admito, se tal acontecesse atropelamento acontecesse, que se salvassem os cachorros!

Havia gente no passeio, ninguém se mexeu, ninguém que estava na paragem, tentou ajudar. Ficaram só a ver. A observar a vizinha de aspecto estranho, que toda a gente julgava ser maluca, bem, agora já tinham a certeza.

E agora? Que faço eu, na segurança do passeio com três cachorros nos braços, que me olham como se fosse o mundo para eles? Então acordei para o que tinha feito e suspirei, começando a fazer perguntas a mim mesma: Onde os deixar? Como os levar? Levo-os comigo? Procuro-lhes donos na escola? Deixo-os num terreno? Impensável! Mesmo sabendo que iria ouvir gritos do outro lado do telefone, ligo ao meu pai, peço-lhe para pegar neles e deixa-los na garagem. Oh, dito e feito! Lá veio o discurso mas, sinceramente, nada do que ele me pudesse dizer me iria afectar e me fazer sentir mal, quando tinha acabado de salvar a vida a 3 preciosidades! (Nem sabia eu o que vinha a seguir!)

Deixei-os numa caixa de cartão, fechada, perto do café da rua e fui para as aulas, já bastante atrasada. Passei o dia a pensar neles e, mal deu o toque da ultima aula, raspei-me a correr para casa, passando pelo super-mercado a comprar-lhes comida, que se lixasse a mesada, as saídas e o café pela manhã!

Na garagem estavam as minhas pérolas. Já tinha conseguido sair da caixa de cartão e já tinha feito as necessidades pela garagem fora. E ainda bem que a garagem tem casa de banho! Consegui limpar tudo antes do meu pai chegar, ao ponto de me fazer um bocadinho menos a cabeça e a consciência em papa. Eu tinha seguido o meu coração, não havia nada que ele me pudesse dizer que me fosse magoar ou mandar abaixo.

Tinham sido abandonados, fora naquela mesma caixa de cartão que alguém os tinha deixado na rua, ao frio e à chuva, sem consciência dos perigos e da morte horrível que poderiam ter tido, se não fosse aquela miúda maluca e ir busca-los ao meio da estrada.
Tinham agora uma caminha, comida e agua, e saí, prometendo-lhes que voltaria dentro de pouco tempo.

A garagem fica na rua abaixo da minha casa e entre os prédios, há um terreno baldio. Pelo canto do olho vi uma coisa a mexer-se no chão, parei e qual não foi o meu espanto, vi um dos cachorros cá fora. Que raio? Mas como é que tu saíste?

Quando me dirigi a ele é que entendi, não era um dos que estavam na garagem, eram outros, acompanhados de duas cadelas já adultas. Não podia levar aqueles para o armazém, muito menos as cadelas adultas, porque não as conseguia agarrar e uma dela estava num estado deplorável, que juro, se tivesse apanhado quem as abandonou que os matava ali, fossem quem fossem.

A mãe, uma cadela magnifica, embora muito magra, não deveria ter leite já. Tinha as maminhas inchadas e deitava-se de lado, porque deveria ter dores. A outra cadela, muito mais pequena, de pêlo aspero e castanha, via-se perfeitamente o problema: cancro.

Devo ter ficado imenso tempo, sentada no chão, a chorar, ao descobrir esta face oculta da situação. Não podia ficar ali, tinha que agir e asim o fiz, gastei o dinheiro que ainda tinha para comer, num saco de ração e fui ao lixo procurar-lhes um caixote de cartão ou varios, para que pudessem dormir. Fiz tudo isto, sabendo que iria chegar a casa e ouvir as bocas do costume, o sermão do costume. Mas para quê ligar? Tinha feito uma boa acção, tinha seguido o coração, nada mais imporava.

Lembro-me de ter cortado os dedos numa lata de comida para eles, com a pressa de os alimentar e de ver o quanto estavam esformeados. Lembro-me de cair e esfolar os joelhos, rasgar as minhas calças favoritas quando descia a rampa que dava para o terreno. Lembro-me de apanhar pulgas, de ficar arranhada das urtigas e de cair inumeras vezes quando já era de noite e não havia luz. Mas nada disto doia, quando me lembrava porque o estava a fazer.

Pessoas vinham e iam, deixavam-lhes comida, eu não estava sozinha na minha luta. Pus anuncios na internet, no jornal, no café da rua e até numa padeiria ao pé da escola e teria posto na minha escola, se o director não me tivesse proibido, o que foi um facto ridiculo, porque tinhamos dois cães abandonados que a escola adoptou. Antes meter cartazes sobre visitas de estudo de final de curso, a tentar encontrar donos para cães, obviamente.

Foram indo, um a um. Não desisti até terem ido todos os da garagem, e consegui! Já os outros, as pessoas levaram-nos e, até aquele vizinho que ninguém gostava, que sempre resmungou com tudo e todos, deixou a cadela que tinha cancro, morrer com dignidade no seu quintal, com um cobertor e comida. Não podiamos fazer nada por ela, ninguém foi capaz de a mandar "adormecer".

A mãe desapareceu, nunca mais soube dela. Ainda vejo as vezes, um dos cães, já adulto mas gostava de puder saber de todos, nem que fosse por um só segundo.


Morri e vivi por aqueles cães, se sobreviveram, orgulho-me do que fiz e faria-o de novo, mesmo que desta vez fosse atropelada, mesmo que me cortasse, esfolasse e magoasse de novo.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Se a tua mãe fosse lésbica, mudava alguma coisa?


Hoje resolvi ser activista e postar um pequeno comentário sobre isto:

"No entanto, não foi ainda dado um passo semelhante no âmbito da parentalidade. É claro que casamento e parentalidade são questões substancialmente distintas e que casamento não implica parentalidade, assim como parentalidade não implica casamento. Mais: falar de parentalidade exige uma mudança de prisma.

Falando de crianças, é evidente que a preocupação fundamental é o seu bem-estar. Mas essa é precisamente a razão que nos obriga a analisar todas as questões relativas ao exercício da parentalidade por casais de pessoas do mesmo sexo com seriedade e com responsabilidade.

Desde logo, há um consenso científico nesta matéria. Órgãos colegiais de Pediatria, Psicologia, Psiquiatria, Medicina Familiar e Serviço Social dos EUA, com acesso a toda a investigação produzida e com a capacidade de averiguar a sua credibilidade, endossam sem hesitações o exercício da parentalidade por casais de pessoas do mesmo sexo, realçando a importância das sinergias familiares e não das estruturas.

Por isso, de forma responsável, vários países da Europa legislaram em conformidade, havendo até mais países cuja lei reconhece o exercício da parentalidade por um casal de mulheres ou por um casal de homens do que os que permitem o casamento.

Já Portugal impede – desde 2001, com a Lei das Uniões de Facto – os casais de pessoas do mesmo sexo de se candidatarem à adopção de crianças institucionalizadas e de se submeterem ao crivo dos serviços de adopção.

Em 2006, a lei que regula as técnicas de procriação medicamente assistida (PMA), mesmo sendo restrita exclusivamente ao âmbito da infertilidade e do direito à saúde, veio também impedir o acesso a estas técnicas por casais de mulheres ou por mulheres solteiras. Mas a lei não impede a realidade.

E a realidade é que, no Portugal de hoje, muitas crianças já são educadas por casais de lésbicas ou de gays – basta pensar que a PMA está disponível para qualquer mulher em Espanha ou que a adopção individual é permitida em Portugal.

Não estamos, por isso, a falar de realidades distantes ou projectadas no futuro: há muitas crianças que crescem hoje em Portugal e que só vêem uma das suas figuras parentais ser reconhecida pela lei. Da escola ao hospital, a segunda figura parental não existe legalmente.

Estas são crianças que, em caso de morte da mãe ‘legal’, não terão qualquer vínculo legal à outra mãe. Estas são crianças a quem o Estado recusa a protecção legal que merecem.

As questões relativas à parentalidade são muitas e é responsabilidade de todas e todos nós garantir o bem-estar das nossas crianças. Vamos exercê-la?"

Paulo Côrte-Real


Presidente da ILGA Portugal


Ora, perante tudo isto e o que vejo diariamente, sendo que a maioria dos meus amigos e amigas, são, de facto e orgulho-me disso, homossexuais, tenho algo a dizer.

Não sou activista, nunca fui. Não sou de dar a cara, se bem que toda a gente sabe da minha orientação sexual e não é por isso que deixo que me pisem, nem na escola, nem no trabalho, nem mesmo na tasca do Sr. António!

Digamos que sei o que é sofrer na pele a discriminação por se ser diferente: Desde gostar também de mulheres, até ser gorda, porque é outra coisa deplorável da nossa sociedade e sabemos como as crianças/adolescentes sabem ser cruéis com as diferenças uns dos outros, pelo menos no meu tempo era assim. Porque ser-se gay ou bissexual é crime, ser-se gordo e feio, é ainda um crime maior.

Perante tudo isto:

Se a minha mãe fosse lésbica? Que tinha? Se o meu pai fosse gay? Que mal é que isso tinha?
Deixavam de ser meus pais? Reposta: Não.
Seriam o que sempre foram para mim, da mesma maneira, independentemente de quem gostassem, se fossem felizes isso sim, interessava!
Felicidade, gente! Amor! Que interessa mais na vida que isso?

Depois vêm os comentários: "Família é para toda a vida, um casamento entre um homem e uma mulher, com filhos, a típica família feliz! Se permitirem o casamento entre pessoas do mesmo sexo vem destruir o conceito de família!"

O quê? Estão a falar a serio? Família para toda a vida? Com a taxa de divorcios que há? Porque só entre um homem e uma mulher? Casamento, implica procriação como nosso senhor do ceu manda? Quantas famílias não têm filhos, porque não querem? Quantas mulheres e homens são vitimas de violência domestica em "casamentos perfeitos"? Conceito de familia? Homem, mulher e filhos? E as famílias que são avó, mãe e filhos? Ou tio, pai e filhos? Muda alguma coisa? As crianças "viram" gays?

Não sejamos ignorantes, por favor. Só se pedem DIREITOS e IGUALDADE onde não tem que haver sequer discriminação! Ninguém pediu para se vestir de banco numa igreja!

O que é preferível: Uma casa com amor e carinho ou instituição que não dá amor as crianças, ou até mesmo um lar onde elas são prostituídas, violadas, mal-tratadas e que sofrem de violência domestica?
Claro, a ultima opção, porque provavelmente a criança iria sofrer traumas por ter uma mãe e a sua companheira, ou um pai e seu companheiro, que lhe dariam o conforto e o amor que ela precisa para crescer.


E mais não digo, bom dia a todos.


Algo que gostei de ler em resposta a este Mopi.