Parabéns ao André.
Haja boa gente, ou pelo menos, seres humanos conscientes de que os animais são como nós, de carne e osso, também sofrem e também precisam de ajuda.


Eu mesma já passei pelo tormento de tentar garantir que um animal tivesse uma vida digna, ou diga-se, 2 cadelas adultas e 6 cachorros.
Tudo começou com a minha saída de casa para a escola.
Normalmente, como todos os dias, as 5 e meia da manhã, eu levantava-me e metia-me nas pantufas. Tomava o meu merecido banho e vestia-me para, garantidamente, apanhar a camioneta das 6:30.
Este dia teve um pequeno desvio.
Ao chegar ao fundo da rua, que é um entroncamento, bastante movimentado, vejo três coisas peludas e minúsculas no meio da estrada.
O meu coração parou, os nervos tomaram conta de mim e desatei a correr, desenfreada pela estrada dentro, sabe-la com que perigo de ser atropelada por um autocarro ou um condutor mais despistado.
Consegui apanhar os dois primeiros e ao o terceiro já foi mais complicado. Felizmente, o condutor do camião viu-me e parou, mesmo numa rua a descer e com risco de perder carga. Deixou-me passar e perguntou se estava tudo bem e o que raio andava a fazer.
Admito, se tal acontecesse atropelamento acontecesse, que se salvassem os cachorros!
Havia gente no passeio, ninguém se mexeu, ninguém que estava na paragem, tentou ajudar. Ficaram só a ver. A observar a vizinha de aspecto estranho, que toda a gente julgava ser maluca, bem, agora já tinham a certeza.
E agora? Que faço eu, na segurança do passeio com três cachorros nos braços, que me olham como se fosse o mundo para eles? Então acordei para o que tinha feito e suspirei, começando a fazer perguntas a mim mesma: Onde os deixar? Como os levar? Levo-os comigo? Procuro-lhes donos na escola? Deixo-os num terreno? Impensável! Mesmo sabendo que iria ouvir gritos do outro lado do telefone, ligo ao meu pai, peço-lhe para pegar neles e deixa-los na garagem. Oh, dito e feito! Lá veio o discurso mas, sinceramente, nada do que ele me pudesse dizer me iria afectar e me fazer sentir mal, quando tinha acabado de salvar a vida a 3 preciosidades! (Nem sabia eu o que vinha a seguir!)
Deixei-os numa caixa de cartão, fechada, perto do café da rua e fui para as aulas, já bastante atrasada. Passei o dia a pensar neles e, mal deu o toque da ultima aula, raspei-me a correr para casa, passando pelo super-mercado a comprar-lhes comida, que se lixasse a mesada, as saídas e o café pela manhã!
Na garagem estavam as minhas pérolas. Já tinha conseguido sair da caixa de cartão e já tinha feito as necessidades pela garagem fora. E ainda bem que a garagem tem casa de banho! Consegui limpar tudo antes do meu pai chegar, ao ponto de me fazer um bocadinho menos a cabeça e a consciência em papa. Eu tinha seguido o meu coração, não havia nada que ele me pudesse dizer que me fosse magoar ou mandar abaixo.
Tinham sido abandonados, fora naquela mesma caixa de cartão que alguém os tinha deixado na rua, ao frio e à chuva, sem consciência dos perigos e da morte horrível que poderiam ter tido, se não fosse aquela miúda maluca e ir busca-los ao meio da estrada.
Tinham agora uma caminha, comida e agua, e saí, prometendo-lhes que voltaria dentro de pouco tempo.
A garagem fica na rua abaixo da minha casa e entre os prédios, há um terreno baldio. Pelo canto do olho vi uma coisa a mexer-se no chão, parei e qual não foi o meu espanto, vi um dos cachorros cá fora. Que raio? Mas como é que tu saíste?
Quando me dirigi a ele é que entendi, não era um dos que estavam na garagem, eram outros, acompanhados de duas cadelas já adultas. Não podia levar aqueles para o armazém, muito menos as cadelas adultas, porque não as conseguia agarrar e uma dela estava num estado deplorável, que juro, se tivesse apanhado quem as abandonou que os matava ali, fossem quem fossem.
A mãe, uma cadela magnifica, embora muito magra, não deveria ter leite já. Tinha as maminhas inchadas e deitava-se de lado, porque deveria ter dores. A outra cadela, muito mais pequena, de pêlo aspero e castanha, via-se perfeitamente o problema: cancro.
Devo ter ficado imenso tempo, sentada no chão, a chorar, ao descobrir esta face oculta da situação. Não podia ficar ali, tinha que agir e asim o fiz, gastei o dinheiro que ainda tinha para comer, num saco de ração e fui ao lixo procurar-lhes um caixote de cartão ou varios, para que pudessem dormir. Fiz tudo isto, sabendo que iria chegar a casa e ouvir as bocas do costume, o sermão do costume. Mas para quê ligar? Tinha feito uma boa acção, tinha seguido o coração, nada mais imporava.
Lembro-me de ter cortado os dedos numa lata de comida para eles, com a pressa de os alimentar e de ver o quanto estavam esformeados. Lembro-me de cair e esfolar os joelhos, rasgar as minhas calças favoritas quando descia a rampa que dava para o terreno. Lembro-me de apanhar pulgas, de ficar arranhada das urtigas e de cair inumeras vezes quando já era de noite e não havia luz. Mas nada disto doia, quando me lembrava porque o estava a fazer.
Pessoas vinham e iam, deixavam-lhes comida, eu não estava sozinha na minha luta. Pus anuncios na internet, no jornal, no café da rua e até numa padeiria ao pé da escola e teria posto na minha escola, se o director não me tivesse proibido, o que foi um facto ridiculo, porque tinhamos dois cães abandonados que a escola adoptou. Antes meter cartazes sobre visitas de estudo de final de curso, a tentar encontrar donos para cães, obviamente.
Foram indo, um a um. Não desisti até terem ido todos os da garagem, e consegui! Já os outros, as pessoas levaram-nos e, até aquele vizinho que ninguém gostava, que sempre resmungou com tudo e todos, deixou a cadela que tinha cancro, morrer com dignidade no seu quintal, com um cobertor e comida. Não podiamos fazer nada por ela, ninguém foi capaz de a mandar "adormecer".
A mãe desapareceu, nunca mais soube dela. Ainda vejo as vezes, um dos cães, já adulto mas gostava de puder saber de todos, nem que fosse por um só segundo.
Morri e vivi por aqueles cães, se sobreviveram, orgulho-me do que fiz e faria-o de novo, mesmo que desta vez fosse atropelada, mesmo que me cortasse, esfolasse e magoasse de novo.
Haja boa gente, ou pelo menos, seres humanos conscientes de que os animais são como nós, de carne e osso, também sofrem e também precisam de ajuda.


Eu mesma já passei pelo tormento de tentar garantir que um animal tivesse uma vida digna, ou diga-se, 2 cadelas adultas e 6 cachorros.
Tudo começou com a minha saída de casa para a escola.
Normalmente, como todos os dias, as 5 e meia da manhã, eu levantava-me e metia-me nas pantufas. Tomava o meu merecido banho e vestia-me para, garantidamente, apanhar a camioneta das 6:30.
Este dia teve um pequeno desvio.
Ao chegar ao fundo da rua, que é um entroncamento, bastante movimentado, vejo três coisas peludas e minúsculas no meio da estrada.
O meu coração parou, os nervos tomaram conta de mim e desatei a correr, desenfreada pela estrada dentro, sabe-la com que perigo de ser atropelada por um autocarro ou um condutor mais despistado.
Consegui apanhar os dois primeiros e ao o terceiro já foi mais complicado. Felizmente, o condutor do camião viu-me e parou, mesmo numa rua a descer e com risco de perder carga. Deixou-me passar e perguntou se estava tudo bem e o que raio andava a fazer.
Admito, se tal acontecesse atropelamento acontecesse, que se salvassem os cachorros!
Havia gente no passeio, ninguém se mexeu, ninguém que estava na paragem, tentou ajudar. Ficaram só a ver. A observar a vizinha de aspecto estranho, que toda a gente julgava ser maluca, bem, agora já tinham a certeza.
E agora? Que faço eu, na segurança do passeio com três cachorros nos braços, que me olham como se fosse o mundo para eles? Então acordei para o que tinha feito e suspirei, começando a fazer perguntas a mim mesma: Onde os deixar? Como os levar? Levo-os comigo? Procuro-lhes donos na escola? Deixo-os num terreno? Impensável! Mesmo sabendo que iria ouvir gritos do outro lado do telefone, ligo ao meu pai, peço-lhe para pegar neles e deixa-los na garagem. Oh, dito e feito! Lá veio o discurso mas, sinceramente, nada do que ele me pudesse dizer me iria afectar e me fazer sentir mal, quando tinha acabado de salvar a vida a 3 preciosidades! (Nem sabia eu o que vinha a seguir!)
Deixei-os numa caixa de cartão, fechada, perto do café da rua e fui para as aulas, já bastante atrasada. Passei o dia a pensar neles e, mal deu o toque da ultima aula, raspei-me a correr para casa, passando pelo super-mercado a comprar-lhes comida, que se lixasse a mesada, as saídas e o café pela manhã!
Na garagem estavam as minhas pérolas. Já tinha conseguido sair da caixa de cartão e já tinha feito as necessidades pela garagem fora. E ainda bem que a garagem tem casa de banho! Consegui limpar tudo antes do meu pai chegar, ao ponto de me fazer um bocadinho menos a cabeça e a consciência em papa. Eu tinha seguido o meu coração, não havia nada que ele me pudesse dizer que me fosse magoar ou mandar abaixo.
Tinham sido abandonados, fora naquela mesma caixa de cartão que alguém os tinha deixado na rua, ao frio e à chuva, sem consciência dos perigos e da morte horrível que poderiam ter tido, se não fosse aquela miúda maluca e ir busca-los ao meio da estrada.
Tinham agora uma caminha, comida e agua, e saí, prometendo-lhes que voltaria dentro de pouco tempo.
A garagem fica na rua abaixo da minha casa e entre os prédios, há um terreno baldio. Pelo canto do olho vi uma coisa a mexer-se no chão, parei e qual não foi o meu espanto, vi um dos cachorros cá fora. Que raio? Mas como é que tu saíste?
Quando me dirigi a ele é que entendi, não era um dos que estavam na garagem, eram outros, acompanhados de duas cadelas já adultas. Não podia levar aqueles para o armazém, muito menos as cadelas adultas, porque não as conseguia agarrar e uma dela estava num estado deplorável, que juro, se tivesse apanhado quem as abandonou que os matava ali, fossem quem fossem.
A mãe, uma cadela magnifica, embora muito magra, não deveria ter leite já. Tinha as maminhas inchadas e deitava-se de lado, porque deveria ter dores. A outra cadela, muito mais pequena, de pêlo aspero e castanha, via-se perfeitamente o problema: cancro.
Devo ter ficado imenso tempo, sentada no chão, a chorar, ao descobrir esta face oculta da situação. Não podia ficar ali, tinha que agir e asim o fiz, gastei o dinheiro que ainda tinha para comer, num saco de ração e fui ao lixo procurar-lhes um caixote de cartão ou varios, para que pudessem dormir. Fiz tudo isto, sabendo que iria chegar a casa e ouvir as bocas do costume, o sermão do costume. Mas para quê ligar? Tinha feito uma boa acção, tinha seguido o coração, nada mais imporava.
Lembro-me de ter cortado os dedos numa lata de comida para eles, com a pressa de os alimentar e de ver o quanto estavam esformeados. Lembro-me de cair e esfolar os joelhos, rasgar as minhas calças favoritas quando descia a rampa que dava para o terreno. Lembro-me de apanhar pulgas, de ficar arranhada das urtigas e de cair inumeras vezes quando já era de noite e não havia luz. Mas nada disto doia, quando me lembrava porque o estava a fazer.
Pessoas vinham e iam, deixavam-lhes comida, eu não estava sozinha na minha luta. Pus anuncios na internet, no jornal, no café da rua e até numa padeiria ao pé da escola e teria posto na minha escola, se o director não me tivesse proibido, o que foi um facto ridiculo, porque tinhamos dois cães abandonados que a escola adoptou. Antes meter cartazes sobre visitas de estudo de final de curso, a tentar encontrar donos para cães, obviamente.
Foram indo, um a um. Não desisti até terem ido todos os da garagem, e consegui! Já os outros, as pessoas levaram-nos e, até aquele vizinho que ninguém gostava, que sempre resmungou com tudo e todos, deixou a cadela que tinha cancro, morrer com dignidade no seu quintal, com um cobertor e comida. Não podiamos fazer nada por ela, ninguém foi capaz de a mandar "adormecer".
A mãe desapareceu, nunca mais soube dela. Ainda vejo as vezes, um dos cães, já adulto mas gostava de puder saber de todos, nem que fosse por um só segundo.
Morri e vivi por aqueles cães, se sobreviveram, orgulho-me do que fiz e faria-o de novo, mesmo que desta vez fosse atropelada, mesmo que me cortasse, esfolasse e magoasse de novo.
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