segunda-feira, 8 de março de 2010

Intolerancia e preconceito


A intolerância das pessoas espanta-me.
Sinceramente.

O ser humano é o animal mais estúpido e ignorante à face da terra.
Somos mesmo um bicho do mato, que não sabe ver para além do próprio nariz e, que tudo o que é diferente de nós, é nada mais do que algo mau e, ou também, errado.

Desde o homem que não se levanta do assento da camioneta para dar lugar à gravida, até ao mulher que se recusa a fazer o mesmo, apesar de saber, por experiência própria, que a gravidez custa na coluna e é perigoso numa camioneta que se balanceia em cada curva.

Indigna-me. Irrita-me solenemente. Dá-me nojo.

Lembro-me de ter aberto os pontos da mão, quando numa travagem me tentei agarrar ao varão gordurento de uma 206. Doeu mas ao menos a idosa a quem dei lugar não caiu, como teria acontecido se estivesse de pé, no lugar onde estava.

Como é possível virar a cara e não dar lugar a quem precisa? Pesa assim tanto o raseiro e o ego a estas pessoas ignorantes e egoístas? Não compreendo.

Há casos e casos, claro. Uma mulher com bebe de colo, não devo, embora possa, ceder um lugar a uma idosa. Ou um jovem com uma perna ou braço partido, não deve, embora possa, dar lugar a uma criança. Mas e os restantes? Terão também crianças de colo ou um membro partido?

Não me parece.

Ver jovens da minha idade, virarem a cara e ignorarem, uma mulher gravida, ou uma criança de 3 anos? Um pai ou mãe, já maduro, não repara nisso também? Porque viram a cara?

E toda a gente me olha surpreendida, quando me levanto para ceder o lugar aos que precisam.

Sim, porque eu, com o meu aspecto estranho, austero e de quem não bate com o baralho todo, levanto-me. A tua prestabilidade súbita e um "eu ia-me levantar agora" ou "eu ia já sair na próxima", quando a pessoa que precisa se senta e ocupa o meu lugar.

Mesmo que eu esteja cansada, mesmo que esteja carregada de sacos do super-mercado, mesmo que esteja com uma dor de cabeça horrível de ouvir a musica irritante de um telemóvel nos bancos de trás. Levanto-me, porque a pessoa precisa mais que eu.

E depois se uma pessoa, tem o azar, de ser mais forte e ocupar um bocadinho mais de banco, meu deus! Santo senhor dos céus, que a criatura é "baleia" e não respeita o proximo, "talvez devesse fazer uma dieta que aquilo até dói á vista" ou talvez "Que horror, nem sei como arranja roupa para aquele tamanho!".

Fico possessa. Deixo de pensar e as palavras saiem-me da boca mais rapido do que as consigo conter: "Mas você tem algum problema? Será que todo o cuidado com que come e a vontade que em de ser magra, lhe atrofiou o cerebro?".

Silêncio.

Suspiro e olho para a rapariga que parece à beira das lagrimas e digo-lhe, com toda a sinceridade e amor pela dor dela, a mesma dor que partilho com ela: "Sabe, não tem culpa de ser uma mulher mais forte. Não somos gordas, somos belas. Mais belas que eles, que só vêm caras na sua vida miserável na procura de serem quem não são. Não chore por si, chore por eles, por serem ignorantes e preconceituosos, porque não sabem o que é a dor de ser diferente entre iguais ou são tão mesquinhos nas suas vidas de cusquices e "familias perfeitas" que nem vêm a porcaria que são, por dentro e por fora."

"Obrigada.", sorri.

Depois penso na impaciencia das pessoas quando um cego entra com um cão num café e este se senta ao lado do dono, obdientemente, enquanto ele bebe o café sentado numa mesa. O dono diz-lhe que tem que meter o cão na rua.

Pergunto-me então quem é o cego afinal: Se o dono do cão, se o dono do café que não tolera a cegueira dele e não tem um pingo de compaixão agora que já tem o dinheiro na caixa.

Novamente, sinto o sangue a frever. Não tenho pena do cego, acho que eles são mais fortes que nós, que temos as capacidades todas.

Um "Que estupidez deixar o cão entrar, não sabe ler o sinal? Ah, espera, é cego.". Risos.
Outro "Porque é que não toma o café na esplanada? Assim não incomodava ninguém, nem tinhamos que levar com o cheiro a cão molhado." Sim, porque está a chover.

As vezes sinto que sou louca, talvez mesmo passadinha da cabeça, sou a unica pessoa que entendo o homem? Sou a unica pessoa que não vê necessidade de tal confusão porque um cego está acompanhado de um cão guia? Sou a unica que não ouve o cão fazer um unico barulho, nem lhe sente o "cheiro a cão molhado"? Indignam-me estas coisas.

Não consigo calar-me e saí sempre alguma palavra mais alto e todo o café se cala.

"Será que são assim tão cego e egoistas que não vêm que o homem PRECISA do cão para a sua vida diaria? Será que são cinco minutos da vossa tão preciosa vida que estão a perder porque um ser semelhante a vocês PRECISA de uma excepção? Não estamos a falar de uma senhora com um caniche debaixo do braço, estamos a falar de um cego. Ah esperem, talvez se a senhora fosse fina e bem vestida, mesmo que o cão fosse mal-cheiroso e cheio de pulgas, poderia entrar... mas agora que é um cego..."

Silêncio de novo.

"Acabou de perder uma cliente e, aprenda uma coisa: quando um dia for você ou os seus, talvez veja o mundo com outros olhos."

Toco na mão do cego e digo-lhe "Obrigada por ser diferente". Dou uma festa ao cão, o resto do meu bolo e ao ouvir um "Obrigado" do homem a seu lado, saio porta fora.




Obrigada eu, as pessoas que aparecem na minha vida e que me mostram o quando sou diferente das mentes mediocres deste pais. Não sou mais importante, apenas tenho noção da dor e do preconceito e por isso mesmo, trato os outros como gostava que me tratassem a mim. Não sou mais, nem melhor, sou apenas eu.

Não sou uma heroína, não sou uma justiceira, apenas se puder fazer a diferença e ajudar alguém, faço-o. Era o que todos deveriamos fazer.

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