O destino é mesmo algo que não se consegue questionar.
Ontem estava em baixo, muito em baixo, fumei imenso, passei o dia todo meio em estado de vigília, entre a dormência e o consciente activo...
Desenhei, desenhei, nada, não saía nada, acabava sempre por apagar tudo... Pedi para que houvesse alguém que me agarrasse a mão e afastasse a nuvem negra em cima da minha cabeça...
Uns tentara e estou-lhes muito agradecida... Depois lembrei-me de pessoas que pertenceram ao passado e com quem fui muito feliz na adolescência, amigos que morria para ver hoje, para conversar, abraçar e rir das idiotices de adolescente com borbulhas...
Nesta altura já tinha fumado um maço, já estava esticada na cama a olhar para o tecto faz algum tempo... Estes dias são os piores, bato mesmo no fundo, como se me atirasse para o poço de costas e em segundos estou lá de novo, com agua até ao pescoço e dentro dos pulmões...
Ele ligou-me falamos, descansei-o, quero que tenha um bom exame e fique bem, sem ter que se preocupar com estas minhas crises sazonais de depressão. Por vezes penso que ele merece melhor, que vou falhar visto já não ter a fibra que tinha quando era mais nova e inconsciente. Era diferente, eu mudei muito com os anos e isso desgastou-me imenso, tenho medo de já não ter estofo...
Mas há sempre alguém que aparece quando estou em baixo para me levantar, ou quando estou feliz para me arrastar para o fundo. Felizmente, foi alguém que sempre me levantou mesmo quando toda a minha vida estava mergulhada numa noite de breu.
Chegou de mansinho, pegou-me na mão e com um agitar de mão, afastou a enorme nuvem negra que eu tinha sobre a cabeça... Os anos e as pessoas afastaram-nos mas nunca destruíram a nossa genuína amizade. Se eu gritar no meio de um estádio cheio de gente, saberá onde estou. Se estiver num festival com muita gente, saberá onde estou.
Eu acredito que entre os corpos e as pessoas, corre um fio de vida, que nos alimenta, nos dá energia e nos conecta à mãe terra. Sempre imaginei isso, até mesmo de miúda, um fio translucido que nos saí do ventre e nos liga a outrem ao nosso lado, esse outrem a outro e assim sucessivamente, até que no fim, todos voltamos à terra, seja esse cordão umbilical, seja o nosso corpo de defunto.
Nós temos um fio extremamente forte que se um puxar o outro vai sentir, se um sofrer o outro sofre, se um rir o outro vai sentir uma felicidade extrema, é assim que funcionamos. É estranho, porque aparece nos momentos mais críticos da minha vida e, mesmo assim, depois de eu lhe dar tantas patadas, nunca desistiu de me tentar animar e levantar.
Sabe sempre tudo de mim, com quem namoro, com quem estou bem, o que estou a fazer, o que tenho ouvido de musica, e no entendo, não nos falamos faz meses, ou anos. Está feliz por mim, que encontrei uma cara metade mas sei que sente ciumes, porque sabe que é uma maneira na qual não me pode fazer feliz como o Pedro faz. Gostava que um dia se conhecessem, as duas pessoas mais importantes da minha vida, juntas.
Pedacinho do céu.
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